Estou na metade da primeira temporada de The Crown. Um trabalho memorável de humanização da monarquia inglesa a partir da história da rainha Elizabeth II. Peter Morgan, o mentor da série, acerta em quase tudo que orbita essa história genial: a conflituosa relação amorosa entre a rainha e seu marido, príncipe Philip (Matt Smith, parecidérrimo com o príncipe em si), um membro de uma realeza deposta por seu povo; a própria ideia de modernização do que é um monarca (turbinada em parte pelo próprio Philip); a incrível história do rei Edward e da americana Wallis Simpson (uma narrativa, já filmada por Madonna, articulada sob inteligentes pontos de vista da crueldade da família, da frivolidade do casal e da paixão arrebatadora); a oscilação perturbadora entre um Winston Churchill cobra criada-mito de guerra-estadista furioso e um velho decadente diante de um mundo novo; as delícias e delírios da rotina real; uma princesa Margaret que se pretende moderna, mas é um clichê; e uma jovem atriz que eu nunca ouvi falar na vida, Claire Foy – e seus olhos imensos -, atracada a um personagem, a Elizabeth em si, com uma devoção gigante, qualidade das grandes atrizes. Uma dramaturgia fascinante e reflexiva como só os ingleses conseguem fazer, misturando ficção e fatos. Apaixonado pela cerimônia de coroação e pelo dilema sobre que papel, afinal, exerce um rei.
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A imagem usada no alto deste post é do portal Netflix
Autor
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Jornalista, trabalhou como correspondente internacional e em Washington e hoje é diretor-executivo da Máquina Cohn & Wölfe
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