Nojoom, 10 anos, divorciadaUma a cada três garotas iemenitas constitui matrimônio antes de completar 18 anos de idade. Na maioria dos casos, elas são obrigadas pelos pais, que recebem em troca um pequeno dote. Foi o que aconteceu com Nojoom Ali. Forçada a se casar com um homem duas décadas mais velho, a menina de 10 anos, no entanto, se rebelou contra o destino que parecia traçado. Certo dia entrou no tribunal e disse ao juiz, sem rodeios: “Eu quero o divórcio”. Conseguiu. O pedido e a consequente sentença, ambos inéditos no Iêmen, motivaram Nojoom a transformar sua história em livro. Lançada em 2009, a obra teve tradução para 16 idiomas em 35 países, e acabou ganhando adaptação para o cinema. Nojoom, 10 anos, divorciada, que estreou no Brasil no fim de janeiro e ainda está em cartaz, retrata a trajetória da protagonista desde a mais tenra infância. Também iemenita, a diretora Khadija Al-Salami conduz com delicadeza a trama, que espelha em algum grau sua própria experiência: a exemplo de Nojoom, ela fora compelida pela família a se casar, aos 11 anos, com um parceiro muito mais velho. A opção pela via da ficção não tira a potência documental da narrativa. Destaque do filme, a atriz Reham Mohammed encarna a protagonista Nojoom com notável expressividade, seja nos momentos lúdicos da meninice na aldeia ou já na cidade, sob o inferno da relação coagida. A sequência que começa na cerimônia e se encerra na noite de núpcias é especialmente poderosa. Nojoom se mantém todo o tempo agarrada à boneca, enquanto o marido tenta desfrutar do “bem” recém-adquirido. Em poucos minutos de filme, um amálgama simbólico: usurpação da infância, violência sexual, negação absoluta da cidadania. |
Autor
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Escritor e jornalista. Autor, entre outros, dos livros "A lua na caixa d'água" (Malê, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Crônicas), "Rua de dentro" (Record), "Ferrugem" (Record), "Na dobra do dia" (Rocco), "A palavra ausente" (Rocco) e "Somos todos iguais nesta noite" (Rocco). Organizador de coletâneas como "O meu lugar" (com Luiz Antonio Simas, Mórula) e "Canções do Rio" (Casa da Palavra).
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