Corro o dia
Sem a mínima vontade de existir
Sou jovem e padeço
De possibilidades
Mas nada nesta vida é crucial
Exceto ganhar dinheiro
Porque já não há honra a resguardar
Ignoro o espectro do pai que pede vingança
Hamlet me ensinou
Tudo que nos retarda a ação
Retorna em forma de cadáveres
Será que falo difícil e ninguém me entende?
Tenho pesadelos com toboáguas
Detesto gente molhada deslizando em alta velocidade!
Vou ao mercado
Meu Deus quantos grãos cabem num pão de forma!
E na fila do banco tenho certeza
Sou um joguete dos deuses
Vou parar num retiro
No interior não consigo
Meditar de olhos abertos
Duas moscas circulam minha cabeça
E cada uma pousa numa bochecha
Estalo as duas mãos na cara
Vocês têm ideia do terremoto que isso representa na cabeça de um indiano?
Antes de ser expulsa o guru grita
Killing não!
Enquanto rege com os braços
Go moscas go!
+++
A imagem que ilustra este poema de Yasmin Nigri faz parte de Surveilleance, trabalho em videoarte de Regina Silveira projetado sobre os prédios de São Paulo durante o Choque Cultural de 2016. Na obra, uma mosca gigante rodeia um facho de luz, em movimento entre o vago e o ameaçador.
Autores
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Poeta, artista visual e doutoranda em Filosofia. É co-fundadora e integrante do coletivo de artes Disk Musa e colaboradora da Revista Caliban. Desde 2017 tem um canal no youtube chamado Alokadostutoriais, onde posta seus vídeo-poemas e outros experimentos. Lançou, no ano passado, o livro "Bigornas" (Editora 34)
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